Um Novo Tempo – Artigo de Éden Valadares
Acabo de voltar de um périplo de viagens pelo interior da Bahia. Cinco cidades em dois dias organizando meu partido, construindo nossos palanques, lançando candidaturas de prefeitos e prefeitas. Nada de novo, afinal, estou presidente do PT Bahia e cabe à nossa direção estadual fazê-lo. A novidade está no tempo. Lembrei de Gil.
Abre parênteses. Gilberto Gil está entre nós. Ou nunca esteve. Sempre acreditei, acredito e digo, meus amigos e amigas são testemunhas, que Gil não vai morrer. Não sei como nasceu, mas tenho certeza absoluta que ele não morrerá. Gilberto Moreira – acreditem, ele chegou a usar esse nome – um dia, um dia qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer, entrará na Baía (realizo a cena no Porto da Barra) andando, submergindo e virando luz. Encantado. Puro axé. O Sol estará se pondo, Gil mergulhado e a Bahia devolverá à eternidade sua ancestralidade. Como os Pretos Velhos que mainha espalhava pela casa em pequenos quadros na parede. Fecha os tais parênteses.
Gil eternizou a música “Tempo rei, ó, tempo rei! Transformai as velhas formas do viver!”. Sobre as novas formas de viver eu falei durante essa viagem. Em Canarana, especificamente. É fato, e a História ou a Ciência Política hão de registrar, que existe um novo tempo na Bahia. Marcadamente, de 2007 até hoje. Um tempo de diálogo, de respeito ao contraditório, que rompe com o autoritarismo, com o mandonismo, com a prática do chicote na mão e o dinheiro na outra. Um tempo de uma Bahia livre, que trata o Tribunal de Justiça, a Assembleia Legislativa, prefeitos e prefeitas, os movimentos sociais e as organizações populares em pé de igualdade.
Esse tempo começou, foi inaugurado, em 2006 com as vitórias nas urnas. Mas foi desenhado, trabalhado e consolidado em forma de hegemonia política ano após ano. É o principal patrimônio imaterial da Bahia deste século. Uma nova cultura, um novo jeito de fazer, uma outra maneira de ver e se fazer a Bahia.
E como os momentos históricos precisam de símbolos, inevitavelmente, este caiu sobre Jaques Wagner principalmente; mas também sobre Otto Alencar. Ambos, hoje, senadores da República. A capacidade de Wagner, o bruxo, em dialogar e atrair foi fundamental. A habilidade de Otto em “arrastar” e estabilizar igualmente importante. Como dizem, em referência à nossa bandeira, juntaram os vermelhos com os azuis e produziram o branco da paz.
Ainda vamos ler sobre esse momento histórico. Se não eu, meus filhos certamente. Há um novo tempo na Bahia. Um tempo de 20, 24 anos ou mais – quem pode arriscar? Rui Costa e Jerônimo Rodrigues ajudaram a estender esse processo. Mas há um novo e inédito tempo. Que não alcança a eternidade de Gil, é verdade. Mas que marca, para sempre, a história da política na Bahia e no Brasil.
Éden Valadares, 42, é presidente do PT Bahia
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde desta quarta-feira, 24.